Joana Maria da Conceição é muito conhecida na pequena Lagoa Nova, município seridoense de pouco mais de 15 mil habitantes, distante 211 km de Natal/RN. Popularmente chamada de ‘Joana Bolacha’, a simpática senhora completou, no último dia 15, 104 anos de idade. A receita para a longevidade é bem simples: comer pouco, ter vida tranquila. Em entrevista à Tribuna do Norte, Dona Joana confessa que o mundo mudou muito ao longo do 104 anos: “Hoje a violência cresceu e as ‘muiés’ não têm mais consideração com seus maridos. O meu morreu, mas esse desgosto não levou de mim”.
Mãe de seis filhos, já tem até tataranetos, mas mantém lucidez e vitalidade. “O que dá alegria é a vida ‘mermo’ não tenho ganância em outra coisa”.
Conheça a comovente história de vida de uma mulher que pertence ao seleto grupo dos brasileiros que já ultrapassaram a marca de um século de existência:
Qual é o segredo para viver, de forma lúcida, mais de 100 anos? Na sua família, as pessoas costumam viver muito?
Não sei dizer não. Sempre trabalhei muito lavando as roupas das famílias de Lagoa Nova. Como pouco: de manhã bem cedo, tomo meu cafezinho com tapioca ou pão. Depois, fumo meu cachimbo. Na hora do almoço, como feijão macaça, arroz e carne moída. Na ‘boca da noite’, ‘minha janta’ é pão de milho com leite. Meus pais viveram muitos anos, mais um tio meu, viveu mais alcançou 102 anos.
De onde veio esse apelido “Joana da Bolacha”?
Não lembro... quando conheci meu marido, ele já tinha esse apelido e depois pegou na família toda.
Aos 104 anos, o que dá mais alegria à senhora?
O que dá alegria é a vida ‘mermo’ não tenho ganância em outra coisa.
Algo que a senhora sempre quis conhecer ou fazer, e não realizou?
Queria aprender a ler, mas, no meu tempo, quase não tinha escola e só quem estudava eram os meninos.
A senhora já saiu, alguma vez, da sua terra (município)?
Sou nascida e criada na fazendo dos Paus Leite, em Currais Novos, propriedade do Capitão Antônio Florêncio. No tempo dos cangaceiros e capangas, meu pai tomava conta das tropas de burros do Capitão, levando e trazendo mercadorias do Brejo da Paraíba. Minha mãe trabalhava na cozinha, fazendo fubá, manteiga e coalhada e nós, apanhando algodão. Depois de casada, morei na Sera da Araruna, Traíri e fazenda Pelado. Aqui, acho que já moro há mais de cinquenta anos.
Conhece a capital, ou tem vontade de conhecer?
No televisor, gosto de assistir jornal e outras besteiras que sai nas novelas. O mundo hoje tá muito diferente, sou do tempo de pouco carro, que o povo andava a cavalo ou ‘de pés’. Nos tempos de hoje, tem muita coisa diferente e avançada. Nunca fui a Natal, não seu nem pra que lado fica.
Então a senhora nunca viu o mar? Mas tem vontade?
Nunca avistei o mar, já tive vontade de ver aquela imensidão de d’água de pertinho.
O que a senhora faz durante o dia? como é sua lida hoje?
Ainda lavo minhas roupas e minha louças. Só não cozinho e limpo minha cozinha... minhas netas cuidam disso pra mim. Se não tivesse quem fizesse, eu ainda dava conta.
O mundo mudou muito? O que a senhora acha que mudou mais?
Tudo ‘tá’ diferente, as pessoas eram mais amigas. O povo tinha mais respeito. Hoje, a violência cresceu e as ‘muiés’ não têm mais consideração com seus maridos. O meu morreu, mas esse desgosto não levou de mim.
O que há de bom hoje, que não existia antes? E antes, no seu tempo de juventude, o que era bom e hoje as pessoas não dão valor?
O bom hoje é viver rodeada ‘de minha família’. No tempo que eu era nova, todo homem usava chapéu de couro ou de passeio. Nem homem e nem ‘muié’ usavam bermudas. Povo de hoje não reza!
Fonte: Tribuna do Norte
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