As atuais previsões climáticas para o semiárido do Nordeste apontam para um inverno de normal a abaixo da média histórica nos meses de março, abril e maio. A nova avaliação, apresentada ontem (25) na sede da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn), no Jiqui, em Parnamirim, durante a “II Reunião de Análise e Previsão Climática para o Norte do Nordeste do Brasil” muda a perspectiva para melhor em relação ao prognóstico anterior, divulgado em janeiro, quando os meteorologistas indicavam uma maior possibilidade de chuvas abaixo do normal.
Técnicos da Emparn e de centros estaduais de meteorologia da Paraíba, Pernambuco e Maranhão chegaram à nova (e alentadora) previsão ao observar, neste mês de fevereiro, uma mudança nas condições das águas superficiais do oceano Atlântico Sul, que ficaram mais aquecidas, situação favorável à ocorrência de precipitação no semiárido.
“As condições do oceano Atlântico Sul apresentaram uma melhora. Já o oceano Pacífico continua num estado neutro, não evidenciando nem fenômeno El Niño nem La Niña, o que não traz influência nem positiva nem negativa de chuva aqui para o Nordeste. A principal variável ainda é a condição do oceano Atlântico Sul, e isso tem melhorado”, explicou o meteorologista chefe da Emparn, Gilmar Bistrot.
Ainda segundo ele, a distribuição das chuvas tende a ser bem irregular, tanto temporal quanto espacialmente. “Essa irregularidade está no DNA do clima semiárido. Você pode ter uma área com bastante chuva e outra vizinha com pouca chuva. Isso também pode acontecer em termos de tempo. Pode haver uma concentração de chuvas e depois um período sem precipitação”, disse Bristot.
As análises dos dados climáticos que levaram os meteorologistas a preverem, para este ano, chuvas de normal a abaixo do normal no semiárido do Nordeste são, no entanto, insuficientes para que eles especifiquem os locais em que as precipitações vão ocorrer. Por isso Bistrot disse que não tinha como saber o quanto as chuvas podem abastecer os principais reservatórios da região, cujo armazenamento médio de água, segundo a Emparn, chega apenas a 20% da capacidade máxima.
“Se tivermos a ocorrência de chuvas concentradas em cima de uma bacia que alimenta um determinado reservatório, poderemos ter uma recarga. Agora, vai depender muito de onde vão acontecer essas chuvas. E isso, infelizmente, só o monitoramento das previsões diárias podem mostrar”, concluiu Bistrot, que recomenda aos gestores a adoção de medidas que possam prolongar a disponibilidade hídrica para a região.
Professor de Meteorologia e Climatologia da Universidade Federal Rural do semiárido, José Spínola Sobrinho ressaltou que não são apenas os reservatórios que apresentam baixo nível hídrico, mas também o lençol freático, cuja água abastece os poços usados para irrigar a fruticultura na região Oeste do Estado, muito prejudicada pela estiagem.
“Tivemos três anos de seca e não vai ser em um ano que o lençol freático e os reservatórios vão recuperar sua capacidade. A reposição é muito lenta. Vão ser necessários de três a quatro anos de período chuvoso normal”, opinou.
Fonte: Tribuna do Norte