segunda-feira, 1 de junho de 2020

Um resumo da história de Carnaúba dos Dantas-RN

 CAPELA DE SÃO JOSÉ
HOJE MATRIZ DE SÃO JOSÉ

Passaram-se dez anos da publicação deste tímido opúsculo. De lá para cá, as obrigações da vida de professor universitário me tomaram muito tempo que gostaria de ter fornecido para pesquisa sobre história local, em que pese meu afastamento de Carnaúba dos Dantas. 
Todavia, vez ou outra, chamados - que, considero, espirituais - me levam ao retorno às fontes históricas, fazendo com que eu precise rediscutir minhas próprias ideias, expressas neste e em outros livros. Isso é parte do processo de produção do conhecimento histórico: ter a plena consciência de que é um conhecimento que se transforma com o tempo e com novas pesquisas nos fragmentos que nos restaram do passado. 
Fiz este preâmbulo para informar que encontro-me em processo de preparação de uma segunda edição, revisada, deste pequeno livro, que deverá ter diversos acréscimos e, também, revisões. Contei, ao longo destes dez anos, com diálogos profícuos travados com fontes, bibliografia e, carnaubenses ou seridoenses com interesses no Vale do Rio Carnaúba, que me fizeram repensar diversos posicionamentos. De antemão, sou grato a todos os que dialogaram comigo, nesse sentido.
Dentre as novidades ou modificações, listo, provisoriamente:
1) História indígena. Pretendo ampliar o panorama sobre a presença indígena nas terras que hoje constituem o município de Carnaúba dos Dantas (numa época, evidentemente, que nem sequer havia a menção a um espaço com essa denominação), tratando desde os contatos com os povos ditos "colonizadores", as narrativas sobre caboclas brabas e famílias com ascendência indígena.
2) Cemitério. O contato com as fontes da paróquia de Acari (assentos de batizado, casamento e óbito) vem reforçando que é muito provável, mesmo, que o atual cemitério daqui tenha surgido durante a epidemia de cólera, em 1856. Já que, nos anos 1860, há registros de várias crianças sendo sepultadas. Nos anos 70 e 80, até começo dos anos 1890, são diversos os sepultamentos, a maioria, de crianças. No cemitério, também, foram realizados alguns batizados. São questões que precisam de uma reflexão mais profunda. 
3) Capela de São José. As mesmas fontes da paróquia mostram que a capela já estava funcionando em 1897, ano em que Antonio Dantas de Maria doou o patrimônio para sua construção. É provável que funcionasse ainda sem todo o acabamento, já que a bênção (oficial) foi em 1900. Ou já era abençoada? Questões para serem refletidas, também. 
4) Sítio Carnaúba de Cima. O lugar onde hoje está a cidade era um pequeno sítio, Carnaúba de Cima, onde moravam os irmãos Antonio Dantas de Maria e Maria José de Jesus (esta, de onde descende a família dos Peba). Até então, sabíamos que o habitante mais antigo era Antonio Dantas, que casou em 1863. Encontramos, todavia, o assento do casamento de Maria José, nas mesmas fontes paroquiais, em 1856, com seu primeiro esposo, Joaquim Tomás de Oliveira. Teria sido ela a primeira habitante do sítio? Ou seu irmão Antonio Dantas já habitava por tais paragens? Mais questões para se examinar. 
5) Presença negra. Durante muito tempo, nossas tentativas de historicizar o processo que fez surgir o que hoje é Carnaúba dos Dantas acabaram redundando em uma versão da história muito aportuguesada, ou branqueada, fruto do eurocentrismo - e falo, inclusive, me incluindo. O contato com as fontes, e com a pesquisa genealógica, tem me feito abrir os olhos para o quanto multifacetada, do ponto de vista dos grupos sociais, é a história de Carnaúba. Índios, negros, brancos e mestiços conviveram, de diversas formas, nesse vale. Um exemplo que me deixou mais tocado foi o achado, nesses dias, também na documentação paroquial, da primeira menção que conheço ao sítio Pedra do Dinheiro, no sopé da Serra do Marimbondo. Trata-se do registro do casamento de José Pereira de Maria e Josefa Maria da Conceição, provavelmente negros, libertos de José de Azevedo Maia - patriarca de onde vem a maioria dos Azevedo de Carnaúba -, ocorrido em 1864.
Não sei para quando. Mas, espero, em um futuro próximo, ofertar a quem interessar o produto desses novos olhares sobre o rio Carnaúba. 
Escrito pelo Prof. Helder Macedo

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