terça-feira, 3 de novembro de 2015

Região do Seridó, nas trilhas da tradição





Chegar ao topo da Serra da Capelinha, em Parelhas, no Seridó, exige algum esforço. Mas a subida é recompensada com a vista do pôr do sol lá do alto. Um espetáculo e tanto! E quando esse cenário de cinema ganha uma trilha sonora ao vivo bem apropriada, com músicas de Luiz Gonzaga e Dominguinhos, aí não tem adjetivo que descreva a sensação. Só vivenciando pra saber.
A contemplação do crepúsculo de cima da serra e ao som da sanfona é, sem trocadilho, um dos pontos altos do roteiro Seridó Tradição, elaborado e promovido com exclusividade pela Pé na Estrada Trilhas Ecológicas, empresa que atua no segmento de esportes radicais e de aventura, trilhas ecológicas e vivências em ambientes naturais. 
A preocupação em ter contato com a história dos lugares visitados e seus moradores é outro diferencial da Pé na Estrada. O roteiro Seridó Tradição começa, por exemplo, em um pequeno sítio em Currais Novos onde vive o casal de agricultores Chicão e Cida. Depois de apresentar sua propriedade e contar como conseguem conviver com a seca, eles servem aos visitantes um delicioso café da manhã regional, com pamonha, canjica, cuscuz, bolo, queijo de coalho, tapioca e outras iguarias do sertão — tudo feito lá mesmo.
A próxima parada é em Parelhas, para conhecer o Sítio Arqueológico do Mirador, onde estão preservadas pinturas rupestres de 9.000 anos. As gravuras encontram-se na serra às margens da Barragem do Boqueirão, que resiste com 10% de sua capacidade de água. Depois da visita, conduzida pelo guia Dean Carvalho, que sabe tudo do lugar, a programação continua com o almoço no restaurante Recanto Verde, um lugar simples e agradável, com convidativas redes à sombra de árvores, para o descanso após um banquete preparado com o melhor da culinária seridoense. 
O roteiro é retomado com a subida da Serra da Capelinha, por volta das 16h, pra que se chegue ao topo antes de escurecer. A caminhada é bem mais longa e íngreme que a primeira, mas o esforço é válido. De um lado, dá pra ver a Barragem do Boqueirão. Do outro, uma pequena cadeia de montanhas da Serra da Borborema, onde o sol se despede. 
Lá no alto, os pequenos sanfoneiros parelhenses Alan e Pedro dão um show com um repertório de gente grande. Eles arrocham o fole e Dominguinhos, Luiz Gonzaga, Beethoven e Ernesto Nazaré ecoam na serra enquanto o sol se põe. Uma maravilha de espetáculo protagonizado pela música e natureza.
A noite reserva ainda uma ótima prosa nos alpendres centenários da Fazenda Rajada com o proprietário Carlos Alberto, incentivador do turismo local, e com o professor e historiador Helder Macedo, que dá uma “senhora” aula sobre a história do Seridó, desde a colonização e extermínio dos índios Tarairiu, passando pelo ciclo do gado e a saga da família do coronel Quincó (antigo proprietário da fazenda). O poeta popular Divino Sena declama versos e a cozinha serve as mais finas iguarias de uma ceia sertaneja.
A dormida é na Pousada Gargalheiras, em Acari, de onde dá pra ter uma panorâmica do açude de mesmo nome, que se encontra seco. O roteiro termina com a trilha por dentro dele, conduzida pelo guia local Ivan. Em duas horas de caminhada, o que se vê são apenas cenas de seca para belas fotografias — canoas em chão rachado onde outro dia havia água, interessantes formações rochosas antes submersas, um pouco de verde, garças e vacas. Os acarienses esperam que chova logo (e muito), para ver o Gargalheiras cheio novamente e a barragem sangrar. Para que ele volte aos seus melhores dias, quando foi eleito uma das sete maravilhas do RN.
Fotos: Dean Carvalho Matéria: Tribuna do Norte

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